Coroas Pintados

Por um governo realmente democrático e transparente para o Distrito Federal!

Brasília é a poética e política fusão num país do impossível pousada no cerrado pelo querência dos humanos e do Plano do Alto, além das vontades e das vaidades humanas.
Só quem compreender essa outra alquimia de ser e de estar no mundo, ficará de bem com o século que passou e com os que passarão.
O resto, são os preconceitos contra “a dura poesia concreta” de nossas inesquinas, que uma “elite cultural e econômica” impõe às castas dominadas.
Mas, a arte de nossa resistência, teima em aqui urdir um outro poder paralelo, quem sabe, ainda mais poderoso pela mística natural em que esta embuido, do que o que nos é imposto pelo poder mítico, político e arquitetônico, que constitui a espinha dorsal do “Exu Monumental”, como o apelidou o poeta e jornalista, a nossa “mais completa tradução”: TT Catalão.
Nosso resistir cultural através da arte, da ciência e da espiritualidade, sobreviverá aos passageiros vais e vens dos parcos políticos que milhões de brasileiros, inconseqüentemente, elegem para fazer daqui, sua infeliz e parca capital.

Mas essa é a capital brasílica de quase três milhões de brasileiros que vieram aqui quase nus e de todas as partes, para um todo:
QUEREREM VIVER AQUI DESAFIANDO-SE PELO NOVO!
E aqui ergueram mansões e casebres, como em qualquer lugar, para terem o gosto inaugural de construir o sonho e pintaram tudo da mais descarada esperança.
O mais leal e legal para com esta coragem de habitar a diversidade e adversidade do cerrado – com tão sutis belezas tecidas na dureza da poeira e da secura braba – é respeitar sem julgamentos, essa vontade soberana.
É preciso amar as tentativas criativas, mesmo vãs e cruas postadas pela ousada utopia de migrante e pioneiro candango. E não foram poucas: de JK o presidente, a Seu Pedro o escultor; de Dona Sarah a primeira-dama, a Dona Filó a parteira.
Todos sonharam com as ferramentas possíveis da necessidade e da urgência de reconstruir o sonho mitológico da terra prometida. Um sonhar assim nunca é de todo inútil. Ele é o corajoso anti-projeto com o qual se constrói qualquer verdadeira obra. Isso é Arte. Ela não é bonita ou feia: Ela É! Brasília se ergueu e se ergue, dessa vontade singular do imaginário brasileiro: ousar ser!
Traçada no ato inagural pelo urbanista Lúcio Costa, com um “X”, o do problema, a solução portanto, era ocupar a solidão coberta de vasto céu azul - que ele dizia ser o mar de Brasília – em meio ao planalto central e sua solitude rara e verde. Centrar no coração do Brasil, a utopia cabocla, mestiça, força real de uma nação que ainda tem coragem de errar, quantas vezes preciso for para testar a ousadia de sonhar o futuro que já começou agora e quando o era em 1960 vinha com ares de boas novas bossas. O Brasil otimista da era JK de cuja nostalgia ainda não se curou da frustação de ter se feito uma capital federal para habitar o fundamento de um sonho moderno de nação que foi frustado por décadas de tensão e falta de respeito pela integridade de nosso imaginário cívico e cultural.
Com tão curto e doído passado, temos porém todo tempo presente para curar as intemperies políticas e viver nossa imaturidade de cidade quase cinquentona. Tentar todas as possibilidades de sermos imensamente felizes com os grandes pecados da diversidade cultural, entre uma quadra e outra, sempre cheias de espaço, ar e árvores!
Podemos até nos lambuzar e abusar da eternidade para resolver todos os X’s dos problemas, que não são poucos e vivos em qualquer cidade que foi além de sua capacidade planejada: era uma cidade para apenas 250 mil habitantes. Somos mais de dois milhões. Mas, a questão principal, é que somos muito e misturados povos, vindos de todas as etnias para formar uma só tribo que em parte vive na ilha da fantasia que é o Plano Piloto, as outras na crueza satélite de Samambaia, Ceilandia, Taquatinga, Estrutural, Gama...
Somos ainda muito jovens, vivenciando uma capital única e bela – seja lá o conceito que se pode ter de beleza - motivo amplo para qualquer nação se orgulhar por tê-la feito brotar assim do quase nada. Por isso, queremos a compaixão dos outros brasileiros que não ousaram aqui deixar suas marcas.

Convidamos a estarem conscientes de que:

A OMISSÃO DE POUCOS NÃO CONDENA JAMAIS A VONTADE DE MUITOS.
E, falar mal de Brasília não faz ninguém ficar de bem com o vero Brasil, nem com sua fé na profissão política, aquela que ajudou a eleger muito menos que 1% da gente que habita essa cidade: os aventureiros habituais de terça à quinta que trafegam do aeroporto para o congresso nacional, de lá para as redidencias funcionais e de novo o aeroporto... que dizem, ser o melhor lugar da cidade.
Brasília é muito mais do que tudo isso e está além das santas profecias e de seus falsos profetas. Por isso, sua alma-cidade resistirá, criando um corpo universal que não é só moldura da arquitetura esteticista do moderno para se engessar como patrimônio cultural da humnanidade. Ela é também a tecitura popular frágil de construir e morar neste século, e ainda será, quem sabe, infelizmente, o desafio do próximo.
Só quem constrói com afinco e poucas posses, sabe o que é criar uma engenhosa engenharia e arquitetura de emergência e sobrevivência, re-tecendo a urdidura do urbano com outros planos pilotos. E, com o sábio fazer de quem já pôs em pé e mutirão, muita oca e senzala, passou e passa pelas favelas e transcriou muito projeto desumano de BNH.
Brasília com tão diversos e geniais “arquitetos”, populares, resistirá bravamente sendo brasileira e universal ao seu modo e sem enganos, já que se prometeu aos migrantes para virem morar uma cidade sem estrutura para viver com o mínimo de dignidade a sua sede de futuro. Viraram o velho gado novo nos currais eleitorais dos políticos oportunistas que sempre estão no poder em qualquer estado brasileiro.
O século XXI, queira ou não, abrirá suas largas portas para as novas dimensões do humano que Brasília, agora como “cobaia”, viceja e experiencia. Possamos então juntos e solidários com ela, para dar um esplêndido salto ousado e quântico aqui entre os paralelos 15 e 20.

Pois dizem, dessa plenitude jorrará com fartura leite e mel:
NEM QUE AS VACAS E AS ABELHAS TUSSAM!
E essa cidade é o mais perfeito tubo-de-ensaio da utopia para essas vontades impossíveis. As vantagens: ela não tem um longo e amargo passado montado sobre um esquema arquitetônico-urbanístico-feudal, centrado no EiXU: igreja-estado. Seu verdadeiro eixo fundamental, articula-se no centro de um “X” – ou cruz –, como queria o urbanista Lucio Costa ao pousar másculo, a forma do pássaro sobre o feminino plano. E o ousou confluir na rodoviária ainda tão suja, feia e desumana. Mas, é ali o lugar onde os brasilienses confluem em massa. Nela souberam aprofundar essa ousadia e transforma-la – entre caldos-de-cana, pregões, assaltos, prostituição e cantorias –, um ponto de chegadas e partidas para incomuns desafios políticos e poéticos.
Essa cidade de amplitudes ímpares onde céu e terra fundem-se um tosco mar cerrado, anuncia sua vocação de praia pluralista com um espírito criativo mix-singular meio a um Ser.tão que está inteiro em cada um de nós eternos migrantes que por aqui encontram o porto, o mais seguro. Quem não aprender e apreender isso, ficará de, e por fora, congestionado e em trânsito no caos de uma mega cidade ou engavetado e dominado pelo provincianismo de uma urbe pequena.
Talvez, quem sabe, hajam várias “pontas” de inveja pela nossa praticidade urbana posta nos largos e ajardinados espaços onde florem escandalosos guapuruvus e ipês-amarelos assombrando de flor e sementes a imensidão da paisagem. Ou mesmo, pelo que é formatada – com tantas desigualdades – mas acessada pelo cosmopolita de nossa proximidade com os fascinantes quintais diplomáticos de outros mundos.
Aqui no nosso terreiro a moçada atua na atitude cultural hip-hop ou sai atrás da plenitude do boi do seu Teodoro que vindo do Maranhão incorporou a nossa cultura à sua arte, e ela, a todo um caudal que incorpora bandas de rock, funk e forró, escolas de samba, clube de choro e mamulengos... O país que quase ninguém viu com o pais que quase ninguém quer ver, aqui mostra sua dsecarada cara índia, negra, mestiça e cabocla que come fast-food na lanchonete e toma açaí e tacacá na barraca do Pará de Dona Jacirema, e aremata com tapioca e acarajé de Dona Nininha e Mainha na Torre das TV nos fins de semana.
Brasília porém não finge o que não é. Ou se ama, ou se odeia sua inovação urbanística, ou sua original organização sócio-cultural pioneira em experimentar uma nova forma de viver com prazer em comunidade. Ou se identifica, ou não, com sua vocação pluralista e cidadã de se dar para quem quer aqui se expor as suas plenitudes que coloca cada um em si mesmo. E isso apavora os que fogem de sua própria realidade ou tem medo de encarar a força de si mesmo. Brasília não chama pro disperso. Não é uma cidade que pega pelo apego ao ego, mas em vez disso, sugere o encontro sereno com o verdadeiro eu. Não é uma cidade para os cegos de ser. É mais afeita para a poesia dos visionários.

A resposta vem em parafrasear Tom Jobim:
BRASÍLIA NÃO É PARA PRINCIPIANTES.
Quem sabe o é, para iniciados que possam avistar além de suas latitudes, espaços mais vastos para se compreender o sentido do que é cósmico pelo auxílio luminar das estrelas. Junto a poética, uma capacidade inerente de cada cidadão indignar-se com nosso destino que relega o talento dos brasilienses a vala comum do quase nada.
Aqui, nos parece, que culturalmente, é um ótimo lugar para morrer. A mídia sulista só dá lugar largo para a estreiteza do poder. Mas aqui viceja uma cultura de resistência à indiferença nacional. Sem esta antropofágica cultura, nada seria possível e teria feito desta capital federal, apenas um mero deserto burocrático. Lembrem-se das bandas de rock com seus poetas e cantores que viraram referência na música popular no país. E não esqueçam dos menos famosos fazem uma arte de alta qualidade seja na literatura, na música e nas artes visuais e que o país solenemente e sordidamente, desconhece.
Então, porque a mídia e intelectuais teimam tanto em ver apenas a Brasília política e sem ética, quando uma tribo criativa de inteligências raras, controem ocas consistentes e sensíveis em meio a beleza atonal do cerrado ?
Aqui residem indígenas, intelectuais, artistas, comerciantes e não só funcionários públicos que tornam também mais digna a alma nação. Então, com quais interesses se conspira lá fora e aqui mesmo, um plano sutil de calar nossa consciência desperta, nos limitando o mercado interno e externo? O que e quem nos quer fazer todos cúmplices comuns das injustiças nacionais cometidas em séculos de omissão da história política e cultural de um país que ainda não conhece o país?

Porque o pior míssil está sempre apontado para a ogiva da nossa tosca, mas bem tecida oca-brasilis ?
A RESPOSTA SEMRE É: OUSAR O NOVO DE NOVO!
Então quem quiser viver a qualidade preciosa de água, ar e espaços vastos, perceberá que neste ponto de Luz eqüidistante de tantos “brasis” dessemelhantes e tristes, é onde arde e urde um país do “não sei bem ainda o que é”. Porque felizmente, não estamos todos prontos como disse Rosa. Tudo está antropofagicamente por se fazer e para a felicidade geral da moçada, é preciso ter a certeza de que fazemos a história não só evoluir, mas transcender as estórias para transmutar o caráter “macunaímico” do nosso povo e seu novíssimo e original projeto de civilização.
Quanto mais nos aproximarmos da cara de Aimberê e Zumbi, mais nossa máscara de falso-europeu, cairá por terra, dando lugar a uma nova alegria secreta que o Brasil em Brasília, por mais disfarces que se ponha, já não pode mais ocultar.
Aqui, o lugar de ousar “experimentar o experimental” com o mesmo brilho conceitual do crítico de arte Mário Pedrosa, que fez a cabeça de artistas e chamou atenção do país para o que havia de mais primordial além das meras vanguardas: a arte de nossos indígenas. Pedrosa queria para eles um museu vivo da memória e do pertencimento com um orgulho milenar pelas nossas origens.
Então o desafio é: uma cidade-símbolo de uma nação que não está estagnada e estará por isso mesmo, sempre aberta à improvisação sensível com o aval do nosso famoso “jeitinho ” criativo e generoso de ser. Mas só que com um jeito digno de botar nossa rica alma na rua, com a mesma eficiência organizacional com que as escolas-de-samba pulsam na avenida. Estão à surgir, outros Joãozinhos-Trinta para animá-las com alegorias reais e novas formas de ser e estar no Mundo to-TAO.

Enfim, e por isso, mais feminino, assim mais fértil e sutil.
É ISSO, BRASÍLIA É ASSIM: MULHER!
Pousando curvas generosas à beira de um lago ampliado pelas boas idéias do original urbanista. Desenhada para as estratégias do poder viril pela imaginação escultórica do arquiteto, Ela, os transcende e como toda mulher, espalha graça entre vôo e pouso de garças. Esmera a sensualidade essencial que o cerrado lhe confere: do mínimo de poesia, toda flor dar de si, o máximo de poema à paisagem. Imaginada não só pelo sonho político desenvolvimentista de JK, mais pelo melhores e mais belos delírios intelectuais e artisticos de Oscar Niemayer, Darci Ribeiro, Agostinho da Silva, Athos Bulcão, Alfredo Ceschiatti, Bruno Giorgi, Tom Jobim, Vinicius de Moaraes, Rubem Valentim...
Brasília é também habitada por muita rima “pobre” que à beira do mesmo lago Paranoá, quer suas margens plácidas e já poluídas, só para si, além dos versos-voos das raras aves.
Ela é assim, uma cidade que busca sua vocação democrática inevitável: gestada no plano piloto e prenhe de vida quase inpraticável pelas satélites que lhe dão uma verdadeira cara de Brasil-caboclo sendo parido, sofrido e amado de novo. Nestas pequenas-grandes cidades feitas e moradas essencialmente por nordestinos/candangos - está a intrépida-trupe de pioneiros que concretaram com sacrifícios esse planalto -, e que continuam ainda dando concretudes com suas dignidades mal-pagas, para além dessas planícies.
Brasília ainda tem vergonha de sua cara candanga e enquanto isso durar, a cidade não terá sua identidade própria reconhecida pelo mundo. Sonhará aquilo que não pode e não deve ser para ter pertencimento a alma de um país real e além do real.

Pois é daqui dessa amplidão de cerrado que se pode olhar pra o Brasil de todas as direções da rosa dos ventos e dizer:
SIM! Que vem ai bons tempos.
Brasília é por esta afirmação de fé e por estes misturados povos de muita raça, essa coisa indizível de cidade-estado-de-espírito elevada ao futuro, a prova dos nove, pronta a rasgar paisagens e receptiva a amar os horizontes absolutos. Neles, recusamos ser apenas um monumento tombado. Humanamente por eles, queremos o momento vivo da história que elege na nossa alma brasileira:


BRASÍLIA, A PRINCIPAL ESQUINA DO PRIMEIRO MUNDO DA UTOPIA DE SÉCULO NENHUM.

Bené Fonteles

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Tags: Bené, Brasília, Fonteles

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