VALORES

[Coroas Pintados]

Ao chegar a uma idade avançada, pensava que nada mais nesta vida me surpreenderia. Os valores forjados dentro de mim pareciam-me duradouros e intocáveis. Como vivemos numa sociedade que ainda padece do mal do maniqueísmo, teoria que divide os seres humanos em apenas dois grupos, os maus e bons, fiquei abismado com as revelações do escândalo político no Distrito Federal.
Nas denúncias amplamente divulgadas pela mídia, deparei-me com vários personagens envolvidos nos fatos, que sempre me pareceram honrados e responsáveis.

Como subjetivamente eu havia dividido o mundo em apenas dois grupos, os certos e os errados, comecei a entender como o ser humano tem várias facetas de personalidade, ora positivas, ora negativas.

Desde a origem da Humanidade, os homens têm se envolvido em todo tipo de corrupção. Apesar dos avanços da ciência e da tecnologia, permanecemos padecendo de um primitivismo moral, fruto da ambição e da ganância.

Quem sou eu, modesto cidadão, para atirar a primeira pedra?

Sem moralismo barato, gostaria de lembrar que somos seres compostos de espírito, alma e corpo. Parece-me que o mundo atual enfatiza a alma e o corpo, o que nos leva ao individualismo, ao consumismo e à vaidade do sucesso a toda prova. O amor a Deus e ao próximo está cada dia mais raro. O individualismo prepondera em detrimento ao valor coletivo. A espiritualidade vem sendo substituída pela religiosidade; a solidariedade dá lugar à lei do mais forte.

Algo morreu dentro de mim, mas uma nova concepção de vida nasceu em meu íntimo: ao analisar-me honestamente todos os dias, reconheço meus defeitos espirituais, procurando erradicá-los. Assim procedendo, melhoro a mim mesmo, e já que sou uma pedrinha inserida no mosaico humano, contribuo para o aperfeiçoamento da Humanidade. Neste caso, uma andorinha faz verão e também ajuda a apagar incêndios.

(Saulo Santiago).

(Matéria publicada no Jornal de Brasília, de 08/01//2010, coluna Opinião/Cartas).