Coroas Pintados

Por um governo realmente democrático e transparente para o Distrito Federal!



 
Em princípio deve ser destacado que a má 
prestação de serviço beneficia a alguns.
Em todas as áreas a prestação sempre foi
ruim e continua de mal a pior. Por muito
tempo, especialmente no governo de
Fernando Henrique Cardoso, o argumento
principal seria que o Estado se envolvia
em todo tipo de serviço e por isso a
qualidade era ruim. Esse argumento serviu
de base para a privatização geral e
irrestrita, muitas delas sob fortes
suspeitas de fraude, mas nada mudou
na prestação dos serviços públicos.


Outro argumento que se perpetuou foi o da falta de pessoal. Se a Justiça leva séculos para
julgar uma causa, culpa-se a falta de pessoal; as fronteiras são um queijo suíço, por onde
passam as toneladas de drogas; falta de pessoal. E assim, em todos os setores o argumento é o
mesmo. Os médicos e demais envolvidos no escândalo do hospital de Sorocaba, que recebiam
sem trabalhar, são prova inconteste de que existem outros problemas mais graves, que precisar
iam ser resolvidos e de que não bastaria aumentar quadro de funcionários.


Há negligência na hierarquia do topo à última camada. O presidente da República relaxa com
relação a seus ministros, haja vista os recentes episódios da famosa Casa Civil; os
governadores e prefeitos deixam seus secretários ao bel prazer e assim chega ao chefe de
setor de qualquer órgão público, com as raríssimas exceções de praxe. Os salários pagos a
funcionários que não trabalham no hospital estadual de Sorocaba provam isso.


Outros problemas afetam a qualidade da gestão pública. Os mais comuns são falta de controle
de material, o uso particular e até o sumiço de bens em todos os órgãos, aumentando
gradativamente na medida em que sobe a hierarquia. A priorização dada a setores que não têm
relevância para o público. Não é rara a contratação de garçons para servirem cafezinho; como
não é quase a totalidade das cidades do Nordeste gastarem milhões com as festas juninas ao
mesmo tempo em que deixam os hospitais sem esparadrapo e sem água nas torneiras. Já as
polícias militares não vão atrás de criminosos por falta de gasolina, cuja veracidade requer
apuração criteriosa por parte das autoridades superiores. Também se criam órgãos sem a
menor necessidade, principalmente para empregar aliados derrotados em eleições recentes.


Não seria preciso mencionar nenhuma deficiência, não fosse pela teimosia das autoridades em
afirmarem sempre que os serviços prestados são de primeiro mundo. O caos se estende para
estradas ruins, falta de iluminação, de sinalização, de hospitais, de polícia, de creche, de
qualidade nos ensinos públicos fundamental e médio e a todos os demais serviços públicos,
indistintamente.


Para começar a melhoria há necessidade de primeiro as autoridades reconhecerem que a
qualidade é ruim e que se resolve com melhores adequação, qualificação e fiscalização rigorosa, além de cobrança por resultados a
todos os servidores. Difundir e aproveitar todas as experiências positivas de outras unidades
contribuiria muito.


Seria necessário fazer um pente fino em todas as instituições para extinguir muitos órgãos,
cargos e funções comissionadas desnecessários como acabar com a sobreposição de serviços, a
extinção de outros e acabar muitas etapas sem nenhuma necessidade. Para se chegar a essa
conclusão bastaria cada órgão analisar os próprios fins, perguntar-se para quê e constatará
que muitos serviços definitivamente não servem para nada.


O bilhete único para o transporte coletivo em São Paulo diminuiu as filas por agilizar a
entrada nos terminais e nos veículos, e indiretamente evitou assaltos e mortes de motoristas e
de cobradores de ônibus por evitar dinheiro nos veículos. Com todos os itens positivos, após
dez anos ainda não foi implantado na maioria das capitais e grandes cidades brasileiras, nas
quais os assaltantes continuam matando cobradores, motoristas e passageiros.


Para melhorar a segurança pública, bastaria colocar nas ruas todos os policiais militares que
prestam serviços administrativos e serviços em ambientes internos.


Nos locais de atendimento direto ao público, especialmente na saúde, deveriam constar o nome
com o código identificador dos profissionais na entrada de cada estabelecimento, além dos
telefones, e-mails e todos os meios para que as pessoas pudessem reclamar de eventual mau
atendimento. Nenhum cidadão comum deste país consegue ser atendido por um diretor ou
responsável de alguma instituição pública deste país.


Nos ambientes internos, deixar bem definidas as atribuições de cada setor, secretaria e
ministério. Por meio de telefone, o cidadão nunca é atendido na primeira ligação e quase
sempre o telefone é desligado automaticamente após ouvir horas de gravações. Ou então passa
de um ramal a outro muitas vezes, sem esclarecimento, sem informações mínimas mesmo sobre
um assunto simplório e genérico.


Não deixar serviços sob os cuidados de pessoa específica. Muitas vezes a falta de atendimento
é justificada porque o colega está na hora de almoço, de um lanche, quando a responsabilidade
perante terceiros é da instituição e jamais de determinadas pessoas. A cereja desse rol é a
não realização de algum serviço por falta de aparelho ou por estar quebrado ou com defeito.
Problema dessa natureza nem sequer deveria chegar ao cidadão. Se os tais aparelhos não
funcionam, que substituam imediatamente ou providenciem o encaminhamento do cidadão, por
conta do próprio órgão, para outro que preste o mesmo serviço.


A falta de manutenção também é constante na Administração Pública em geral. O exemplo
recente maior é a derrubada de todos os estádios de futebol para a construção de novos para
jogos da Copa, pois nenhum tinha capacidade de ser apenas adequado ou reformulado em parte.


A amplitude da Administração Pública não permite abordar todos os segmentos num só texto.
Mas esses problemas não ocorrem só por ingenuidade ou descuido dos agentes públicos; muitos
são propositais, com a finalidade de beneficiar pessoas e grupos empresariais. O escandaloso
financiamento em curso no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social ao grupo
Pão de Açúcar para a fusão ou a incorporação do Carrefour exemplifica a promiscuidade entre
público e privado, muito embora sejam tudo devidamente explicado e justificado. Outro
episódio entre público e privado merecedor de destaque foi o passeio do governador do Rio de
Janeiro, Sérgio Cabral, num jatinho de um empresário que recebe bilhões mensais por
contratos com o Estado do Rio de Janeiro.


Esse emaranhado nem sempre é de responsabilidade exclusiva de um ou outro órgão, mas
resultado de uma cadeia de maus serviços, servidores e gestores. Essa série precisa ser quebra
da num determinado ponto ou momento. Eis o papel que somente uma sociedade consciente
exerceria. Daí por que não se investe para valer em educação e cultura. Mas a sociedade tem
que ir à luta por conta própria, papel a que poucos se aventuram.


Pedro Cardoso da Costa – Interlagos/SP
Bel. Direito
(texto publicado no forum transparência Hacker em 03/07/2011)

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Tags: publico, serviço, transparencia

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