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O RESTO É COM O ERNESTO - Texto PAULO TIM

“ A luta era gigantesca e só quem dela participou pode avaliar o sacrifício que todos enfrentaram. (...) A batalha feroz e ininterrupta começara. Homens, máquinhas, ação, idealismo, alegria, vibração cívica”


Ernesto Silva, sobre o início das obras em 1956, em sua “História de Brasília”, Coordenada, Editora de Brasília com INL, Brasília DF, 1971, pg.108



Nos dias de febril atividade da construção de Brasília, homens, máquinas, sonhos, amalgamados em um gesto histórico, três nomes sobressaíam na polvadeira:
Oscar Niemeyer, Israel Pinheiro e Ernesto Silva. Niemeyer planejava, Israel executava e o resto...Bem, o resto era com o Ernesto! O Dr. Ernesto Silva. E chegou-se até a fazer uma trova com o trocadilho.

Com Ernesto Silva, presença fundamental na transferência da Capital do Rio para Brasília, vai-se uma página da História de Brasília, da qual ele foi protagonista e intérprete, ao escrevê-la em sua "História de Brasilia " - , como testemunho de uma vida.

Vai-se, também, o sonho: Brasilia, Capital da Esperança.
Ficamos com o pesadelo dos dias atuais, quando assistimos a cidade sangrando aos olhos estupefatos da nação...
Mas como falar de Ernesto Silva é falar da própria História, melhor deixar o registro de sua importância nos momentos cruciais que marcaram o ponto inicial da construção da cdade: a ida do Marechal José Pessoa, Presidente da Comissão para a Localzação da Nova Capital, a Goiânia, acompanhado de Ernesto Silva.Aí q se dá a desapropriação da área onde seria erguida a Nova Capital. E por aí se verá que, se Brasília teve um construtor, que foi JK, um gênio, que foi Niemeyer, um padroeiro, que foi Dom Bosco, teve também um padrinho: ERNESTO SILVA.
Fala História!


1953- A Comissão de Localização da Nova Capital toma duas medidas práticas de significativo alcance: 1) Determina a feitura do levantamento aerofotogramétrico de toda a área definida pelo Congresso e constante de Lei 1803 do ano anterior, conhecida como “Retângulo do Congresso”, num total de 52.000 km², entre os Paralelos 15 e 17; 2) Contrata, com apoio financeiro da Vale do Rio Doce, a análise deste material pela “Cruzeiro do Sul”, a qual encomenda referido trabalho a uma empresa de Nova York, denominada “Donald Belcher”. O contrato previa um conjunto de estudos paralelos à fotointerpretação das imagens , abrangendo climatologia, paisagem, disponibilidade de água e de energia elétrica, solo, drenagens etc com a indicação de cinco lugares mais favoráveis à construção da futura capital.

1954 – Entrega do “Relatório Belcher” indicando os cinco sítios do “Quadrilátero do Congresso”, mais tarde conhecidos pelas cores a eles atribuídas por razões de segurança - “castanho” , “verde”, “vermelho’, “azul” e “amarelo”-, os quais foram apreciados no inícío de 1955 pela Comissão presidida pelo Gen. José Pessoa, optando-se pelo primeiro para a edificação da cidade. Eis suas características, segundo Adirson Vasconcelos in “A Mudança da Capital”:
Sítio Castanho: justaposto ao Sítio Verde e compreendendo uma área do território de Planaltina banhada pelos rios Torto , Paranoá, Bananal e Gama. Cortado pela estrada Planaltina-Anápolis e também situado dentro do retângulo demarcado por Kruls em 1892.


1955 (29 de abril) – De posse da decisão da Comissão pela área denominada “sítio castanho” para a localização da futura capital, seu Presidente vai ao Presidente (interino) Café Filho , encarecendo ao mesmo- sem êxito -,que decretasse imediatamente, afim de evitar a inevitável especulação com os terrenos da área, a desapropriação de um total de 5.850 km².

1955 (abril,04) – Iniciando sua campanha à Presidência da República JK , num comício em Praça Pública na cidade de Jataí, Goiás, promete, se eleito cumprir a Constituição, respondendo a uma indagação nesse sentido de um cidadão simples do local, Antônio Soares Neto, o “Toniquinho”. Insatisfeito “Toniquinho” insistiu perguntando se cumpriria ,também, o dispositivo constitucional que determinava a mudança da capital para o interior. O candidato teria titubeado um instante, pois tal ponto não constava de seu Programa de 30 Metas para o Governo, mas, refez-se e respondeu: “Sim, cumprirei, Vou mudar a Capital”. Aí, neste momento , iniciava-se o compromisso de Juscelino com o que seria a construção de Brasília. Não se tratava de uma decisão voluntariosa , tampouco individual. Juscelino já participara, na Constituinte de 46 , dos debates sobre a transferência da Capital e se inclinara para sua localização no Triângulo Mineiro, acompanhando o companheiro de bancada Lucas Lopes. Mas agora era o candidato favorito à Presidência que falava e se comprometia com a transferência. Mas havia um problema: O Programa estava feito e divulgado e aí não constava a transferência da capital. Juscelino, então, - consta - , terminado o comício teria trocado idéias sobre esta questão com Santiago Dantas, um dos mais lúcidos intelectuais daquela época e estreito colaborador do candidato e lhe encarregado de “solucionar” o problema. Como incorporar a transferência da capital num programa de 30 metas já definido. Santiago , então , teria lhe dado a idéia de fazer da construção da nova capital não uma meta a mais no seu Programa, mas a “Meta –Síntese” que o condensava e lhe dava até maior sentido vez que todo ele consistia na tentativa de consolidação da industrialização nacional e de valorização do mercado interno como mola propulsora deste modelo de desenvolvimento voltado para dentro do país.



1955 (30 de abri) – Frustrado com a negativa do Presidente Café Filho em decidir-se pela desapropriação do “sítio castanho” o General José Pessoa, acompanhado do Dr. Ernesto Silva , numa histórica e surpreende determinação, viaja a Goiânia num pequeno avião da FAB, em busca de apoio do Governo daquele Estado. Chegando no mesmo dia à essa cidade reúne-se com o então Governador José Ludovico de Almeida e lhe expõe os resultados a que chegara a Comissão e o grande dilema diante da vacilação do Presidente Café Filho em desapropriar a área , o que colocava em risco todo o empreendimento até então realizado. Sensibilizado, Juca Ludovico, o Governador, consulta seus principais assessores e, na noite de domingo, 1º de maio de 1955, assina o mais importante Ato da do processo de transferência da Capital do Rio de Janeiro para o Planalto goiano: O decreto número 480 , de desapropriação do “sitio castanho”, que vai assinado pelos seus Secretários de Estado Sebastião Camargo, Peixoto da Silveira, José Feliciano, Irani Alves, Ângelo Millazo, trabalhista histórico que viria, mais, tarde incorporar-se à criação do Partido Democrático Trabalhista –PDT-, e Jayme Câmara,

1955 (10 de maio) – O Governador de Goiás encaminha Mensagem à Assembléia Legislativa do Estado solicitando permissão para desapropriar a área objeto do Decreto 480.

1955 (12 de maio) – Após 26 horas do recebimento da Mensagem do Governador do Estado solicitando autorização para efetivar a desapropriação do “sítio castanho” , a Assembléia Legislativa de Goiás aprova a petição e se encaminha em bloco para entregar a mais rápida e acertada deliberação daquela , em mãos, para o Governador, o qual , a sanciona, recebendo o numero conveniente: Lei 1.071-55.

1955 (maio) – Desapropriada a área da futura capital, a ela se encaminha Bernardo Sayão, Vice Governador de Goiás, um bravo carioca que ali se encontrava desde a década passada em razão de suas atividades profissionais na Fundação Brasil Central, no contexto da Marcha para o Oeste, uma tentativa de Vargas de abrir novos caminhos para o interior do país. Lá chegando, Sayão apressa-se a abrir acessos para novos pontos novos pontos de chegança até uma pista de pouso com três mil metros, ao lado do atual “Catetinho” que, por muitos anos serviria à JK em suas inspeções às obras de Brasília. Pista na qual JK desembarcaria no dia 15 de junho de 1955 em companhia do Secretário José Peixoto e do Engº Ermínio Pacheco. Neste local, o mais alto do “sítio”, Bernardo Sayão planta uma cruz com “pés de pau” das imediações. Iniciava-se a construção de Brasília, graças à convicção mobilizadora de notáveis goianos durante décadas, da determinação de seu Governador Juca Ludovico, da bravura de Bernardo Sayão, todos irmanados com o General José Pessoa à testa da Comissão de Localização da Nova Capital, como que representando a longa tradição do exército brasileiro na defesa da transferência da capital para o Planalto Central, a quem não faltou discernimento, competência e audácia para realizar o sonho de toda uma nação.Enquanto isto, chegam a região seus primeiros ilustres visitantes: o Major Mauro Borges, que seria eleito Governador de Goiás logo depois, projetando-se nacionalmente por um mandato de grandes realizações no Estado e pela solidariedade com a “Campanha de Legalidade”, liderada pelo Governador do Rio Grande do Sul, nos fatídicos dias de agosto, que sucederam a renúncia do Presidente Jânio Quadros, e que ameaçavam precipitar-se em golpe militar contra o Vice Presidente João Goulart ; o Senador Coimbra Bueno (GO), construtor de Goiânia no final da década de 30 , a serviço do então Interventor Pedro Ludovico; o jornalista Francisco Braga Pinheiro, que fez uma ampla reportagem na “Folha de Goiaz”.


1955 – O Governo de Goiás cria uma Comissão de Cooperação para a Mudança de Capital Federal com o Governo Federal para acelerar a implantação do processo de transferência , entregando sua Presidência a um dos mais ilustres goianos da época, Altamiro de Moura Pacheco, o qual ainda no ano de 1955 faz a desapropriação amigável da “Fazenda Bananal”, com 23 mil hectares, ou seja, quase a totalidade do denominado “sítio castanho” que hoje pisamos.Em maio de 1956 seriam desapropriadas mais cinco fazendas vinculadas a sete “condomínios”, numa área de 7.500 alqueires geométricos: Fazendas Guariroba, Riacho Fundo, Tamanduá, Vicente Pires e Taguatinga, algumas delas inspiradoras dos nomes de algumas cidades satélites hoje agrupadas sob a denominação de Região Administrativa. Até setembro de 1958 prosseguem as desapropriações alcançando mais 177 propriedades rurais menores, pertencentes a 365 condomínios. As escrituras foram lavradas nos Cartórios de Luziânia, Planaltina e Formosa prestando-se, com o tempo, a inúmeras interpretações em decorrência de falta de pagamento e até mesmo falcatruas. Embora as primeiras desapropriações tenham recaído sobre o orçamento do Estado de Goiás tal ônus foi aliviado depois que o Senador Coimbra Bueno (GO) conseguiu aprovar uma verba da União de 120 mil cruzeiros.

1955 (agosto) – Uma comitiva de parlamentares goianos visita o Presidente Café Filho no Rio de Janeiro encarecendo-lhe, também sem êxito , que homologasse o “sitio castanho”, através de Decreto, como o local da futura capital. Isto só ocorrerá, enfim, já às vésperas de sua saída do Governo por razões de saúde, quando, em derradeira hora sanciona o Relatório Final da Comissão para a Localização da Nova Capital, o qual indicava o “sítio castanho” para a futura capital.

1955 ( 8 de setembro) – O hesitante Presidente Café Filho homologa o Relatório do General José Pessoa , quando já iam adiantados os trabalhos por ele desenvolvidos tanto junto ao governo de Goiás, quanto junto à “Paulista de Estradas de Ferro”, no sentido de levar os trilhos até o local escolhido, como também junto ao Ministério do Exército que prontamente deslocou um Batalhão de Engenharia para a cidade de Formosa-GO.

1955 (03 de outubro) – O povo brasileiro elege Juscelino Kubtscheck de Oliveira para Presdiente da República, líder de uma coligação progressista dos antigos Partidos PSD-PTB , cujo programa prometia fazer cinqüenta anos em cinco e que tinha na construção de Brasília a “Meta-Síntese” de seus compromissos, todos voltados à industrialização e à valorização do mercado interno.

1956 – O General José Pessoa entrega a Presidência da Comissão para a Localização da Nova Capital para o General Aureliano Farias e , através de seu Secretário Ernesto Silva, envia uma carta pessoal de renúncia ao Chefe da Casa Militar da Presidência da República. Iniciava-se o processo de cisão no processo de transferência da capital, entre a “velha guarda” que havia lutado pela concretização desta idéia , com a definição do “sítio castanho” como sede da futura capital e as desapropriações para que tal pudesse ser feito, e a nova equipe “bossa nova” do Presidente JK, grande parte dela de intelectuais e técnicos civis talentosos e progressistas, políticos de escol, cariocas e mineiros com longo trato na vida pública da capital Rio de Janeiro, cosmopolitas, enfim, Em razão disto Brasília se erguerá como um projeto de tipo futurista para a época, pouco ajustado à realidade mais dura do sertão goiano e às contorções e belezas específicas do cerrado. A necessidade, também, de adaptá-lo aos limites do mandado presidencial , construindo a cidade em três anos e meio , levava a que se instituisse uma verdadeira ditadura da cidade sobre a região, contrariando os velhos geógrafos; do físico sobre o social, contrariando a advertência antropológica de um Gilberto Freire que via aí um sacrilégio contra o Planalto Central; e do supérfluo sobre o necessário, contrariando alguns planejadores que temiam aí uma subestimação das dimensões econômicas da cidade , como abastecimento, emprego e renda. “Brasília”, enfim, passou a ser “dos arquitetos e urbanistas” que teimavam em projetar uma cidade limitada a 500 mil habitantes e que, em razão desta obstinação teimosa, iriam dificultar o acesso mais livre à terra urbana no Distrito Federal, levando ao “extorno” de milhares de famílias migrantes para além das fronteiras institucionais da cidade. O velho General de campo sabia disto, ou se não sabia, o intuía sabiamente e por isto se afastou da Comissão deixando em seu lugar o fiel Ernesto Silva, até que ela fosse extinta, dois meses depois, dando lugar à NOVACAP.

1956 (abril,18) – O Presidente JK lança a “Mensagem de Anápolis”, secundando, simbolicamente, o gesto do Ex-Presidente Dutra que havia, anos atrás, assinado a “Mensagem de Corumbá”, ambas cidades goianas, muito próximas de onde se ergueria Brasília. Nessa Mensagem,que contém um histórico da luta pela transferência da capital, dirigida ao Congresso Nacional ,o Presidente submete à apreciação das suas duas Casas a delimitação da área do futuro Distrito Federal e a criação da Companhia Urbanizadora da Nova Capital – NOVACAP, para a qual indicaria o nome de Israel Pinheiro para a Presidência, ficando Oscar Niemeyer como Diretor do Departamento de Arquitetura e encarregado de organizar o concurso para a escolha do projeto da nova capital. Dá o nome, também, de “Brasília” à futura capital. No campo, porém, os trabalhos de preparação do “terreno” para a futura capital eram intensos e levados à cabo, principalmente, pelo Governo de Goiás, através de Bernardo Sayão, Vice Governador, e Altamiro de Moura, Presidente da Comissão de Cooperação para a Mudança da Capital .

1956 ( 22 de setembro) – É constituida formalmente a NOVACAP em Ato Solene , na sede da Comissão presidida por Ernesto Silva, que também presidiu este Ato.

(Fonte: APONTAMENTOS PARA UMA HISTÓRIA DE BRASILIA, Paulo Timm - 2010)


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PAULO TIMM, 65 - Economista, Pós Graduado ESCOLATINA - U. de Chile , Ex Presidente do Conselho Regional de Economia DF - Professor da Unb
Email - paulotimm@hotmail.com

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